Antico Affetto

Heinrich Schütz, o alemão italiano

O título do nosso programa Pequeno Concerto Espiritual é inspirado no conjunto de obras designadas por Schütz Kleine Geistliche Konzerte, publicadas após o regresso da sua segunda visita a Itália.

Compostas para vozes e baixo contínuo, sem recurso a outros instrumentos, estas obras reflectem o período de enormes dificuldades económicas que assolou a Europa durante a Guerra dos Trinta Anos.

Utilizando o stile nuovo aprendido com Claudio Monteverdi, Schütz consegue – com uma enorme parcimónia de meios – conferir a expressividade do recitativo italiano a um estilo germânico algo mais austero, obtendo um resultado que, ao mesmo tempo que move os afectos do ouvinte, o convida ao recolhimento espiritual.

Schuetz

Heinrich Schütz, o alemão italiano

A influência da arte musical italiana perpassa toda sua obra, mas soube adaptá-la ao carácter alemão de modo muito pessoal. Heinrich Schütz (1585—672) é considerado o mais importante compositor alemão antes de Bach.

Nascido no seio de uma família de classe média, em 1685, viveu as primeiras três décadas da sua existência numa época de paz e prosperidade na região que corresponde hoje à Alemanha.

Aluno de excelência em línguas e direito, o seu talento musical fez no entanto com que o Landgrave Moritz de Hessen-Kassel, seu protector e empregador, lhe concedesse em 1609 uma licença de dois anos para estudar em Veneza com Giovanni Gabrieli, organista e compositor principal da basílica de São Marcos.

A permanência de Schütz em Veneza acabaria por se prolongar até 1613 e o próprio Gabrieli quis mantê-lo como seu assistente.

Neste período Schütz pôde contactar e assimilar a esplendorosa linguagem musical de Gabrieli, última e grandiosa manifestação do renascimento italiano, materializando esta sua experiência em obras como Psalmen Davids e num livro de madrigais a cinco vozes dedicado a Moritz.

Em 1614, Schütz entra ao serviço de Johann Georg I, Eleitor da Saxónia, inicialmente a título oficioso e, a partir de 1619, oficialmente como mestre de capela da corte de Dresden, corte esta que seria, nas décadas que se seguiram, uma das mais importantes instituições musicais da Europa.

Em 1628, Schütz faz nova visita a Veneza – onde encontra um panorama musical muito diferente do de há duas décadas atrás.

Monteverdi era mestre de capela em São Marcos e é sob orientação deste que Schütz, agora com 42 anos, é introduzido à seconda prattica. Dois acontecimentos marcaram profundamente a vida de Heinrich Schütz.

Em 1618 teve início a Guerra dos Trinta Anos, um dos mais sangrentos conflitos de toda a história da Europa, que devastou o Imperium Sacrum Romanum, deixando-o em profunda crise económica.

Em 1625, Magdalena Schütz, mulher do compositor, morre após um breve período de doença, pondo fim a um casamento feliz que durou apenas seis anos. Schütz, contrariamente ao costume da época, não voltaria a casar. Morreu em Dresden, em 1672.

A música de Schütz, de cariz predominantemente religioso, está imbuida de comovente expressão emocional. Dominou a composição para grandes orquestas tão bem como para os ensembles mais reduzidos. As suas Paixões figuram entre suas obras mais impressionantes.

Foi um dos primeiros grandes compositores alemães a dedicar-se aos oratórios (destacam-se a História da Ressurreição, as Sete Palavras de Jesus na Cruz e a História do Feliz Nascimento de Jesus Cristo).

Os Salmos de David, as Symphoniæ Sacræ e as Cantiones Sacræ também são obras-primas do género. Embora sua imensa produçãomusical — a maioria sacra — fosse fortemente influenciada pelos estilos italianos, as suas obras dramáticas corais puseram a música alemã «no mapa».

Na imagem: retrato da autoria de Rembrandt.

O programa Pequeno Concerto Espiritual

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